
A Rádio Sucupira voltou a cumprir com rigor a sua missão de informar e formar os ouvintes, ao protagonizar mais uma edição marcante do programa “África e o Mundo em Análise”, transmitido todos os domingos das 13h30 às 15h30, tanto pelas ondas hertzianas como pelas plataformas digitais. A emissão deste fim de semana reuniu quatro especialistas de peso para comentar e esclarecer os principais acontecimentos que moldam o presente e o futuro do continente africano e das relações internacionais.
Com a moderação de Pedro Vidal, o painel contou com a presença de Manuel Simão, Adão Maurício, Jurema Albano todos especialistas em Relações Internacionais e do politólogo Eduardo Pascoal. Os analistas ofereceram uma leitura aprofundada e crítica sobre cinco tópicos de grande relevância.
1. Ceticismo em torno do acordo de paz entre a RDC e o Ruanda
O recente acordo de paz firmado entre a República Democrática do Congo e o Ruanda foi recebido com desconfiança por parte da população residente em zonas sob controlo de grupos rebeldes, como o M23. Os especialistas destacaram a fragilidade dos compromissos anteriores e o papel ambíguo que o Ruanda tem desempenhado no leste congolês. Para Manuel Simão, “o acordo parece mais uma formalidade diplomática do que um pacto com garantias de implementação no terreno”.
2. Mandato de cinco anos para líder golpista no Mali
Outro tema que suscitou debate foi a decisão da Assembleia Nacional do Mali de conceder um mandato de cinco anos ao coronel Assimi Goïta, líder do golpe de Estado de 2021. A medida foi analisada como um sinal claro da institucionalização do poder militar no país, numa tendência preocupante que se observa noutras regiões do Sahel. Eduardo Pascoal advertiu: “Estamos a assistir a uma reconfiguração da ordem constitucional na África Ocidental, com respaldo popular, mas sem legitimidade democrática.”
3. Etiópia prestes a inaugurar a maior usina hidrelétrica de África
O painel também analisou a iminente inauguração da Grand Ethiopian Renaissance Dam (GERD), a maior barragem de África, construída sobre o Nilo Azul. Jurema Albano sublinhou o impacto estratégico da obra: “A barragem fortalece a Etiópia no tabuleiro energético regional, mas continua a alimentar tensões com o Egipto e o Sudão, países que temem pela segurança hídrica.” Os convidados discutiram ainda o potencial da usina para impulsionar o desenvolvimento económico etíope.
4. Trump convida líderes africanos para cúpula nos EUA
A surpreendente decisão de Donald Trump, presidente dos EUA, de convidar cinco líderes africanos para uma cúpula em Washington, D.C., foi interpretada como um movimento político estratégico. Adão Maurício considera que “Trump quer reposicionar-se como um estadista global e percebe a crescente importância da África nos eixos económicos e de segurança”. O painel refletiu também sobre a possível instrumentalização do continente africano em contextos eleitorais ocidentais.
5. Rússia reconhece oficialmente governo talibã no Afeganistão
Encerrando o programa, foi analisado o anúncio da Rússia como o primeiro país a reconhecer oficialmente o governo talibã no Afeganistão. Os especialistas avaliaram o gesto como parte da estratégia de Moscovo para quebrar o seu isolamento diplomático no contexto da guerra na Ucrânia e reforçar alianças alternativas. “É um reconhecimento que desafia as normas internacionais e que reforça a polarização global”, disse Jurema Albano.